domingo, março 27, 2005

queria tanto

queria tanto
que você me achasse
quando eu fico assim
escondido de você

pra sempre

amor
por favor
antes de você ir
me explica
direitinho
o que era
o pra sempre

sexta-feira, março 11, 2005

fugir fujir

nunca vou fugir
sempre que penso nisto
me perco no saber
se é com j ou com g
por não saber as letras
também muita coisa
não vou fazer
minha vida vai ser
a cada dia mais
esta vidinha
de poucas palavras

dia dez

hoje já é dia dez
eu quase não faço muita coisa
minha esperança é que na velhice
já dê para juntar um pouquinho
de pouco em pouco
dois poucos já é mais
e assim vai

nossa senhora

eu tento me deixar
o menos possível
aqui no papel
mas no final
eu
aqui
aparecido

roça

morar numa casinha no mato roça
viver bem simples
nos feriados nas férias ser a casa dos meninos
casa de saudade de amores
brincadeiras sorrisos roupa suja
pé no chão
acordar tarde ou bem cedinho pra pescar
sem dever de casa
eu sou este bobo
que só acredita em amor em felicidade
no dia que não tem aula

pilha

eu li
eu sou um brinquedo que funciona
quando a pilha acaba

eu sorri
fiquei tentando descobrir qual brinquedo eu era
destes de madeira
destes de montar
de pintar
um carrinho de plástico
boneco
foi então que eu vi
sou mesmo
é a pilha quando acaba

corpo presente

corpo presente
não tenho corpo presente

corpo
pesado

passado
eu não lembro

futuro
não sei pensar

feliz aniversário!

presente?
eu não trouxe

supermercado

preciso me olhar lá no princípio
naqueles espelhinhos de supermercado do interior
aqueles com a moldura laranjada
pequeno que nem dá pra ver o rosto inteiro
eu quero isto
não sou inteiro
sou partido
não posso ter espelhos grandes
não sou um todo
sou mesmo
é quase nada

promessa

Quem promete
Fica sempre prometendo
Acaba só ficando
Acaba
e só

livro

escrevi um livro
só de versos
Versos pequenininhos
Livro grosso
Várias páginas
Se juntar pertinho
Um verso depois do outro
Quase nada

pensar

Não gosto de ficar ouvindo conversas dos outros
Odeio pensar me intrometendo

pessoalmente

Tem muita coisa que eu não escrevo
Prefiro escrever pessoalmente

terça-feira, março 08, 2005

copo

toda imagem me tortura
fico procurando
neste copo sobre a mesa
vazio úmido
lacrimejando a falta da sua boca
que bebia cerveja preta
neste choro do copo
dou por mim
com um sorriso no rosto
assustado viro os olhos pra outro lugar
agora sim
o copo é só copo
será que ele ainda está chorando?

poço

Quando estou sozinho
Com este caderninho
Que eu posso escrever
Não posso
É um poço

trocas

Troquei meus sonhos
Minhas esperanças
Por uma casa arrumada
Por uma família comportada
Por uma mulher bem sucedida
Troquei o melhor de mim
Por tudo isto
Troquei até bem
Acho que estou no lucro

dormindo

Dormindo eu escuto
Um sonho eu ouço
De longe uma música
Vem crescendo
Se misturando comigo
Acordando
Este calor fininho
Que me invade
Toma conta de mim
Seu corpo encanta
É serenata
Embaixo da minha janela

cada dia

A cada dia
Escrevo um verso
Tem dias que
Só penso

Eu fico sempre assim
Sozinho fugindo
Evitando encontrar
quem quer que seja
Tenho medo de cruzar com alguém
E não me reconhecer

gorjeta

deixa a gorjeta
agora, um real
pagamento adiantado
que eu tenho que ir na escola
- mas se voce for embora,
quem vai tomar conta do carro?

Meu irmão vem de noite
Um real é pela vaga,
com seguro é três

o pior

eu queria enfrentar o mal, o pior, o feio
olhar no olho
e ver nos outros olhos
o inferno do outro
mas até meu cachorro é doce
eu provoco arrepio
sinto medo
mas ele não me avança

letra

eu escrevo a letra
que eu ainda
nem pensei
antes de escrever
a letra daquela hora
eu escrevo a próxima
escrevo adiante de mim

e quando chegar o dia
que eu nem saiba
qual a letra
qual a próxima letra
ou pior
se um dia
eu nao souber mais
qual a letra anterior

moda

na moda eu só gosto
dos costureiros
de baixa costura

de bem

esta mania
ainda minha
de não querer
o que é de bem

eu tenho muito pouco ânimo
em ser feliz

recadinhos

eu fico por aí
deixando estes
recadinhos escritos
um dia alguém vai achar
e tomara
oxalá
seja tarde demais

chico

chico
eu queria
tanto
te abraçar
pena que você
me suja

viagem

esta coisa de viagem
me da sempre medo
acho terrível estar longe
me esqueço fácil de quem estava aqui
essa solidão de não ter ninguém dentro

parecido

sou parecido
toda vez que conheço alguém
sou parecido com outro
alguém conhecido
difícil depois disso
é não ficar parecido
ficar diferente de alguem desconhecido
mais na frente da conversa
ela fala
-o jeito então, é muito parecido.
e esse jeito nem é meu

duro é ouvir de outro
-não tem nada a ver

então fujo de um e acabo
prisioneiro de outro
se eu for diferente
de quem eu fingi ser
o outro pode então
me achar parecido

boneco

um dia você chega em casa
e pensa que o boneco é um estranho
e ele nunca mais confia em você
se um dia você pensou que ele era vivo
naquela hora já pensou o que ele pensou?
os bonecos só voltam a conversar conosco
depois de mortos

ponto

de cada conto eu retiro um ponto
do verso eu inverto
de escrever fico a ver
do amor a ter
dor
o problema de escrever
é que fica um pouco bonito

mansinho

as palavras deveriam cair no papel
bem devagar
de mansinho
qualquer ventinho carrega uma pena
pra outro coração
às vezes a gente até fala
sai pensamento
e ele vai embora
só que as vezes quando a gente fica
soprando muito
ou com força
ele dá uma volta e gruda na gente
as vezes a gente até engole
aspira uma pena
ou outra
e esquece

ausências

tenho ausências de escrita
de pouca leitura
o esquecimento
não sei escrever
eu gosto mesmo é de ver

queria tirar retratos com as palavras

fotos de cartier bresson
assim só preto e branco
aquela coisa bem grafite
a gente até esquece que existe papel
que vontade de sorrir
de segurar alguma daquelas crianças
de chorar por aquela mulher
descobrir o sentimento
tirar de cima o cobertor
esse friozinho de medo
assim só letrinhas no papel

inícios

eu acho que escrevo e esqueço
vivo achando coisas que escrevi
inícios
sou escritor de inícios

e se tivéssemos amantes
e soubéssemos
e se esses amantes fossemos
nós

faria com você
o que eu faria com as outras

pavor

te amar foi descobrir esse medo
ter em mim
pavor de não mais existir
perder de ti
de não te estar
essa fome do teu pior
do que mais te é teu
isso de dizer com te
te amo
é um verbo
na segunda pessoa
na sua pessoa

exercício

esse exercício
de pensar em versos
de colocar rimas
rítmos
nas palavras
não sei não
se um dia eu não
acabo
parado

esperar uma palavra
que caiba ali

é melhor então
ficar quieto
e calado

escrever de ontem
falar o quê de amanhã
e hoje
hoje nem tem
mais

pobre

fui escrever gastar
e não tinha memória suficiente
no computador
nem memória é bom
a gente ficar gastando
o ocidente só desperdiça
essa pãoduragem dos turcos é santa
o bom é só o essencial
roupas e comidas até os pássaros têm
eles encontram por aí
sempre achei que eu ia conseguir
encontrar um jeito
mais feliz de viver
não que eu esteja reclamando
mas queria ser mais pobre

só existe beleza na pobreza
essa beleza da verdade
nua e crua
é muito pobre ser nu e cru
esse negócio de vestido e cozidinho...

ter
dá medo

os peitos grandes
cheiram a desperdicio

fel

docemente a gente
vai escorrendo ali
um felzinho
tão pouquinho
a gente acaba
até viciando
nas maldades dos outros

florzinhas então
vermelinhas
parecem doencinhas
alegrando
um tanto bom da noite

aí chega a hora de dormir
e meus olhos vão ficar agora
olhando pras coisas negras
no escuro
minhas lembranças
vão fazer aquela confusao
dúvida no escuro
é puro pesadelo

atiçando

a dor é muita
para escrever
aquelas letrinhas
alí pretihas
atiçando a gente
quanto menos palavras
minha língua tiver
mais eu posso errar
o erro então
fica famoso

haikais

haikais
aquis

figurinhas

escrever é sempre achar
alguma coisa pra fazer
e ficar aqui quieto sem fazer nada
minha literatura é a de figurinhas amar é ...

uma coisa do lado de cá
outra coisa do lada de lá
por que existe acento no a?
existe acento?
e onde eu me sento?

coisa importante

preciso encontrar algo pra fazer
mas por medo
tem que ser escondido.

preciso encontrar um jeito de saber de mim
sem precisar de espelhos

tenho muito medo do que eu quero
tanto medo que eu nem sei o que é

nunca escrevo nada que me mostre alguma
coisa importante

o que

de ter tantos arquivos de escrever
eu acabo não sabendo aonde dizer
e de não saber onde
termino não sabendo
o quê
tenho em mim esta coisa de vazar
estou sempre em vazamento
o problema é que as goteiras incomodam
por ficarem apenas pingando
incomodam pela chatice
essa coisa de ser quase nada
e quando a gente não presta a atenção
ela acaba aparecendo no fundo
e vai aumentando até não aguentarmos mais

o problema de escrever é que
quando a gente escreve
nunca encontra o que queria
mas se a gente não escreve
fica com a sensação de que a coisa
seria esta

segunda-feira, março 07, 2005

fábulas

nesta noite fria
minha mulher
deitada na cama
lendo fábulas
meu cachorro
deitado no chão
fabuloso
e eu aqui
nem lendo
nem deitado
mentiroso

diálogo

um porco
- coisa boa e ser feliz um pouco
- coisa porca e ser feliz um muito
a porca

ventos

Sempre tenho medo destes ventos que me acordam
Quando eu ainda não estou dormindo

ninar

Ninar é estar o mais feliz do mundo

mais feliz

Se eu fosse mais feliz com tudo o que tenho
Logo logo saberiam que tudo isto
Não me pertence

engano

Minha depressão é um pouco às avessas
Fico em mim mesmado de tanta felicidade
Acho injusto sair de mim
Com tanta tristeza que há por aí afora
Faço força então pra ser mais triste
Burrices mentiras
Esquisitices trejeitos
Se me pegarem sorrindo
Pensarão que é engano

prosa

queria escrever prosa
mas não consigo inventar nomes para as pessoas
das minhas hitórias
e morro de medo de escrever sem colocar nomes
e as pessoas virarem outras

criança

escrever feito criança
me esvazio de mim
e vou esvaziando
ate não ter mais nada
minhas histórias são então
só sorrisos e sonhos
são antes das letras

linda

ela era linda
uma delícia de falas
ela conversava
eu é que não sabia
a lingua
que ela falava

filho dos outros

odeio tomar conta do filho dos outros
eu fico vendo aquela criança ali e triste de não ver
como são meus filhos quando estão com outros

desgraça

desgraça pouca é bobagem
o fim da comida é lavagem
daqui só trago em mim
pouca bagagem
de ficar calado sempre passo por mal educado
se falo demais dou bom dia a cavalo

começar

acabo de começar a escrever nada
de nada a nada eu fico nadando

feliz

Sou tão feliz aqui no meu mundo
Sentado escrevendo
Então eu mudo de cadeira
A gente não pode viver assim tão feliz
Toda felicidade
Tem outro ponto de vista

agenda

Eu não tenho agenda
De jeito nenhum
Imagina se um dia
Eu perco

jeito

este jeito de louco...
escrever jeito
sempre me soa
esquisito

fico assim
meio desconfiado
na duvida
nunca sei se
deste modo
ou de outro

histórias

eu odeio fazer qualquer coisa
fico mesmo é só aqui
desistindo

eu queria mesmo é saber contar
histórias
e não ficar aqui
contando palavras

tv tupi

a tv tupi pegou fogo
e com ela todos os episódios do nacional kid
ninguém mais podia ver.
aí vieram as digitalizações
hoje a gente pode
ver alguma coisa do nacional kid
o computador deixou a gente sem certezas

um juiz não acha que o novo teste de dna
de um prisioneiro condenado a morte
deva inoncentá-lo
o promotor também não
e o técnico que fez o antigo teste?

erro

eu sempre erro
se eu nao errei
é porque
ainda não fiz

o gato é o seu fantasma
sua sombra

o cachorro...

não estamos nem comparando
nem falando de cachorros
de gatos
nem de sombras

outra

será que tudo em mim é mentira dela
e dela eu só tenho mesmo é outra?

poesia é quase coisinha
queria escrever assim
só coisinhas
a gente pensa assim
com poesia
pensa só
um pouquinho
de coisas

nick cave x sinatra

estranho esta coisa de amor

eu me levanto e ouço nick cave
corto meu cabelo eu mesmo
com tesoura e gilete
queimo incensos para abafar
outros cheiros proibidos

ela se levanta
abre as janelas
da bom dia ao mundo
e pra continuar
coloca frank sinatra

em algum lugar a gente
deve se encontrar

pote de barro

nem me lembro mais
do que dizia

esta preguica
que tenho de tudo

num lado
um papel
lilás roxo

do outro
dentro de um pote de barro
que meu filho me deu
um monte de lápis coloridos
todos brancos por fora

eu desejando escrever
ele
o monte
não me toques