segunda-feira, maio 30, 2005

telefone

meu medo
me faz
me fez
um desamante
esquecido de ternuras
e voz doce no telefone

dia

De tudo
Só podia
Ficar mesmo
A escrever

Todo fazer
Me torna feito
Escrito
Desfeito

A cada verso
Escrevo
Um dia

Se não é verso
O dia
Foi pura
poesia

português

Quem não sabe
Escrever português direito
De tudo pode ser
Menos bom
Sugeito

Sugestão
Tem tudo a ver
Com este
Seu jeitão

aposentadoria

Nunca pensei na velhice
Mais do que trinta anos

Viver no lucro
Só dá prejuízo

Não pensei em cuidar
Da saúde
Da poupança
Sobreviver depois do fim
A cada data que escrevo
Depois dos trinta anos
A cada dia passante
Fico contente
Arrependido
Preocupado por começar
A querer viver
Depois do fim
Difícil é pensar
Que não tem fim
Pior é pensar
Que é pouco

paz

Dois minutos
De paz eu tenho
Dois minutos
De microondas
Fazendo o cha
Para minha esposa

felicidade

A felicidade
É pouco exigente
Menos asséptica
Não sei mesmo
Escrever
Me perco no dizer
Queria dizer
A felicidade
É um pouco
Menos rigorosa
Menos exata
Menos prevista
Menos limpa
Mais confusa
Surpreendente
Às vezes
Desenhar
Parece um quase
Dizer nada
Descrever
Imaginar as formas
As coisas
Dá muito susto
Ver

vaga

Esperar mais um pouco
Começar a escrever assim
Vagamente
Minha mente
Tem vaga